A letargia religiosa
E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz. (Lucas 16 : 8)
É comum vermos igrejas anunciarem mensagens com foco nos empreendimentos (seus e dos seus fieis “clientes”), afirmarem que DEUS sempre dá vitórias a seus filhos, que cristãos são cabeça e não cauda, que na casa do “justo” não faltará o sustento, que quem dizimar terá o devorador afastado de sua casa, entre outras teologias que na maioria das vezes estão desprovidas de revelar-se como verdade nas vidas em geral. Bem, para quem nunca viu um crente com fome ou sofrendo, basta ler as cartas paulinas ou livros históricos sobre as primeiras igrejas com seus mártires e verá aos montes.
Esta teologia da vitória gera um espírito letárgico, em que pessoas tudo ficam esperando de DEUS, retardam trabalhos missionários e usam estratégias ultrapassadas, afinal para que melhorar? O seu deus fará por eles.
Parece que alguns líderes e fieis embotaram, só utilizam ferramentas de evangelização se descritas em algum trecho das escrituras, apesar de viverem na era da internet, da informação, das transformações tecnológicas, entre outras mudanças.
Nos últimos séculos DEUS nos revelou através da ciência zilhões de ferramentas administrativas, de marketing, e infelizmente quem as tem utilizado de forma agressiva são os filhos do mundo e “igrejas” com fins escusos.
A impressão que tenho é que a igreja quer combater um incêndio com um baldinho de água, e há muito mais preparo no mundo para fazer incêndio que a igreja tem condições de combater (pelo menos com suas estratégias).
Quando assisto aulas na faculdade, vejo que as questões científicas abordadas na administração, sociologia, política, economia, psicologia, geram muito mais mudanças de referencial nos alunos, que as mensagens dos púlpitos da maioria das igrejas. Se tivesse de fazer uma relação entre sala de aula e igreja, seria semelhante a palavras de homens contra palavras de menino. A mensagem da sala de aula não tem tanta profundidade, mas é tão bem apresentada que se aprofunda no ser, já a da igreja tem uma profundidade enorme, mas é apresentada com uma superficialidade tremenda, ela fica sempre presa as questões como manutenção de cultura, uniformização do comportamento humano, reforço de ideais sem argumentos atuais e racionais, etc.
Enquanto nas salas de aulas são utilizados instrumentos como filmes, peças teatrais, nas igrejas estes canais são banidos, posto que só sabem utilizar os mesmos métodos. Nas salas de aula se lê de tudo. O bom é repassado e o ruim é criticado, nas igrejas só se orienta leituras que tenham os mesmos traços que a cultura do grupo local aceita. Imagina um grupo desses, despreparado, lidando com o grupo que sabe dos dois lados. Que catástrofe!!!! A salvação é que DEUS age mudando alguns referenciais, afinal a igreja é dELE e por isso não acaba.
Não é para menos que com tanta limitação forma-se um povo cada dia mais despreparado para vida, e grandes pensadores como Voltaire, Agostinho, C.S. Lewis, Francis Chaeffer, Caio Fábio, Rubem Alves, estão sendo esquecidos, pois cada um desses tem pensamentos transformadores, que adapta-se realidade da época sem perder a essência da mensagem da graça.
Mudar alguma coisa na igreja é um parto, os erros que ela comete hoje serão cometidos amanhã, os estudos que ela usa hoje para seus ministérios são os mesmos de pelo menos uns 10 anos atrás. Tem mais , se um ministério estiver em decadência, as pessoas ficam aguardando o agir de seu “deusinho”. Essa espera foi criada pelo maligno para estacionar ações e confundir mentes, matando toda atitude inovadora que na maioria das vezes é produzida a partir de dons dado pelo próprio DEUS.
Transformar esta cultura enraizada na maioria das igrejas é um milagre, enquanto isso, no mundo, as ferramentas de marketing mudam em dias as culturas, basta pessoas verem uma novela para que vistam-se diferente.
Essa letargia causada pela teologia do descanso em DEUS, também se estende para áreas como o trabalho. Tem gente (cristãos) que quer que DEUS vá vender por ele, que números (objetivos) sejam atingidos sem esforços pessoais, enquanto isso os do mundo, mais ágeis (também para fazer coisas erradas, algumas vezes), trabalham mais, pensam mais, atuam mais, consequentemente tem melhores condições materiais.
Há como seria bom se a igreja tivesse a mobilidade de uma empresa, que adapta-se ao meio objetivando repassar suas idéias (infelizmente idéias de compra, de serviço, etc) e mudam valores em dias.
Tenho certeza mais que matemática que quem converte pessoas é DEUS, mas creio que homens podem convencer outros, essa é a nossa parte. Mas vendo a igreja com sua letargia, fica claro a expressão;
.......... os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz............
Creio que a tendência é que essa lerdeza acentue-se e que seja feita maior confusão entre qual é a nossa parte na história da vida. Religiosos oram quando é pára agir e agem quando é para orar, há tempo para tudo debaixo do sol, tempo para agir e para orar esperando em DEUS.
Agir ou aguardar, eis a questão? Se o sujeito tiver tendência arminiana vai querer toda hora agir, sentindo-se a representação de DEUS na terra, mas se for calvinista buscará sempre aguardar, posto que tudo já está escrito, determinado. É difícil mesmo alinhar os pensamentos religiosos.
Precisamos aprender a prudência dos filhos deste mundo, sabendo que não se constroem casa sem antes se planejar custos, que no trabalho devemos ter iniciativas com bons princípios, fazendo nosso possível. Se todos fizéssemos só nosso possível (que não enfarta ninguém), o mundo seria outro, afinal o impossível DEUS o fará (se achar que é o melhor para nós).
Desejo aos religiosos uma fé coerente, livre das letargias, isso não tem nada haver com uma fé totalmente racional (embora use a razão), até porque DEUS está além de nossa limitada razão.
Nele que deseja fazer que os filhos da luz andem na leveza e velocidade da luz,
Ferdinando Cabral
28/10/2007
http://ferdinandocabral.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário